Aqui no
blog já conversamos sobre cascade, empowerment, feedback e outros
termos em inglês que usamos muito no dia a
dia das organizações, e hoje vamos falar de mais
um. Você sabe o que é Ghost Writer?
Na tradução literal, Ghost writer é um escritor fantasma, mas na
prática não se trata de nada do outro mundo! Essa é uma expressão usada para designar um
profissional especialista em prestar serviços de redação à pessoas que, por algum
motivo, não podem escrever. Então, basicamente, um Ghost
writer é alguém que escreve textos gramaticalmente perfeitos e feitos
"sob medida" para algumas pessoas específicas - são livros, artigos para web ou revistas, colunas para
jornais, teses, discursos, palestras, e tudo o que você possa imaginar em matéria de textos! - e não toma nenhum crédito por eles.
Essa
profissão é reconhecida em alguns países, como por exemplo no Canadá e até nos EUA (onde há uma categoria especial dedicada aos escritores de
discursos, os chamados speechwriters) mas o fato é que esses profissionais estão espalhados pelo mundo todo.
E sabe
onde é que existem muitos deles? Na
comunicação da liderança.
É comum que o líder não possa escrever seus
discursos ou os textos do seu blog por falta de habilidade ou, na maioria das
vezes, de tempo. E é aí que entra um Ghost
writer, que de modo bastante reservado, transforma idéias em escritos claros, coerentes, agradáveis e que imprimam a personalidade do líder.
O blog
Com. Liderança teve a honra de conversar
com um deles, colaborador de uma grande empresa presente em cinco países da América Latina, mas, como a
discrição é alma do negócio, optamos por não revelar nomes. Confira a entrevista abaixo:
Com.
Liderança: Quais são as suas atividades no dia a dia?
Ghost Writer: Na empresa onde trabalho, quem escreve o blog do Presidente e os
seus discursos não é ele. E não é por preguiça ou por descaso, não. Ele é o presidente de uma
multinacional, sua agenda é ocupadíssima. Então quem escreve sou eu.
CL: Mas
se foi você quem escreveu, como alguém pode acreditar que a autoria é de outra pessoa?
GW: É muito importante reconhecer o "jeito" da pessoa,
tornar o discurso real, verossímil, para que seja
convincente.
CL: Você não acha que isso pode beirar a
tênue linha do anti-ético?
GW: Para
alguns, sim. Mas eu não considero errado. De que
adianta se o presidente falar e ninguém entender? Eu sou
especialista nisso, estudei muitos anos. Minha função é fazer com que ele seja
entendido, com que a mensagem chegue. É como uma consultoria, uma
"ajuda". Ele sabe o que ele quer dizer, e eu sei os trâmites para que isso chegue até os funcionários de maneira mais efetiva. Além do mais, essa atividade é tão comum... Pessoas como o presidente Kennedy, Hillary
Clinton e George Lucas já contrataram os serviços de Ghost Writers.
CL: Então os assuntos que são abordados é ele quem escolhe?
GW: Sim.
O ideal é que o presidente esteja
bastante envolvido. É claro que isso nem sempre
acontece, mas no caso da empresa onde trabalho é assim. Se ele quer falar de
uma experiência pessoal, ele me conta e a
partir daí eu escrevo. Depois ele aprova,
faz modificações quando é preciso. Ele pode não ter o tempo para sentar e
escrever, se preocupar com cada palavra como eu me preocupo, mas tem que ler o
que é postado, saber do que estamos
conversando com os funcionários. Ele lê todos os comentários também, mas acredito que isso seja parte da nossa cultura de
aproximação. Ele é bastante conhecido por isso, por essa proximidade que tem
com os seus colaboradores. E nem todos os presidentes são assim, na verdade isso é bastante difícil.
CW: Você também escreve os discursos?
GW: Sim.
No calor do momento, dizemos muitas coisas desnecessárias e esquecemos coisas importantes também. Pode ser a emoção, o nervosismo... Você nunca saiu de uma entrevista e pensou "Caramba,
esqueci de dizer isso!" ou "Ah! Devia ter falado aquilo"? É muito comum. Eu sei o que é relevante, e se escrevo me
certifico de que aquilo não será esquecido.
Nem
sempre o presidente lê tudo. Já cheguei até a fazer tópicos, em bullets mesmo, sabe? Para ele falar como
quisesse. E outras vezes eu já cheguei a mandar o discurso
para ele aprovar, mudar o que achasse necessário e depois ler inteiro, vírgula por vírgula, como estava no papel.
Depende muito da ocasião.
CL: E
supondo que o discurso seja um sucesso, ou que o blog dê muito certo e que todos comentem como ele é bom, simpático, admirado, comunicativo.
Como você reage ou reagiria a isso,
sabendo que quem escreveu foi você?
GW: Eu só não reagiria bem se desse
errado, porque isso significaria que não estou fazendo o meu trabalho
direito (risos). Nem sempre o presidente é conhecedor e domina a
Comunicação, e como ele carrega a imagem
da empresa de maneira tão forte, não é errado que ele tenha uma
ajuda. Nesse caso a ajuda sou eu, e se os resultados disso são positivos, o sucesso é de todos: os funcionários sentem essa proximidade e respeito, o líder tem suas mensagens absorvidas e eu, que tenho a prova
de que o trabalho não é à toa.
CW: Da
maneira como você fala, tudo soa tão positivo. Existe algum lado ruim nessa atividade? Quais são as maiores dificuldades de um Ghost writer?
GW: Acho
que a maior dificuldade é ter um portfólio (risos).
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