domingo, 3 de junho de 2012

Com um pé no além


Aqui no blog já conversamos sobre cascade, empowerment, feedback e outros termos em inglês que usamos muito no dia a dia das organizações, e hoje vamos falar de mais um. Você sabe o que é Ghost Writer?

Na tradução literal, Ghost writer é um escritor fantasma, mas na prática não se trata de nada do outro mundo! Essa é uma expressão usada para designar um profissional especialista em prestar serviços de redação à pessoas que, por algum motivo, não podem escrever. Então, basicamente, um Ghost writer é alguém que escreve textos gramaticalmente perfeitos e feitos "sob medida" para algumas pessoas específicas - são livros, artigos para web ou revistas, colunas para jornais, teses, discursos, palestras, e tudo o que você possa imaginar em matéria de textos! - e não toma nenhum crédito por eles.

Essa profissão é reconhecida em alguns países, como por exemplo no Canadá e até nos EUA (onde há uma categoria especial dedicada aos escritores de discursos, os chamados speechwriters) mas o fato é que esses profissionais estão espalhados pelo mundo todo.
E sabe onde é que existem muitos deles? Na comunicação da liderança.

É comum que o líder não possa escrever seus discursos ou os textos do seu blog por falta de habilidade ou, na maioria das vezes, de tempo. E é aí que entra um Ghost writer, que de modo bastante reservado, transforma idéias em escritos claros, coerentes, agradáveis e que imprimam a personalidade do líder.
O blog Com. Liderança teve a honra de conversar com um deles, colaborador de uma grande empresa presente em cinco países da América Latina, mas, como a discrição é alma do negócio, optamos por não revelar nomes. Confira a entrevista abaixo:

Com. Liderança: Quais são as suas atividades no dia a dia?
Ghost Writer: Na empresa onde trabalho, quem escreve o blog do Presidente e os seus discursos não é ele. E não é por preguiça ou por descaso, não. Ele é o presidente de uma multinacional, sua agenda é ocupadíssima. Então quem escreve sou eu.

CL: Mas se foi você quem escreveu, como alguém pode acreditar que a autoria é de outra pessoa?
GW: É muito importante reconhecer o "jeito" da pessoa, tornar o discurso real, verossímil, para que seja convincente.

CL: Você não acha que isso pode beirar a tênue linha do anti-ético?
GW: Para alguns, sim. Mas eu não considero errado. De que adianta se o presidente falar e ninguém entender? Eu sou especialista nisso, estudei muitos anos. Minha função é fazer com que ele seja entendido, com que a mensagem chegue. É como uma consultoria, uma "ajuda". Ele sabe o que ele quer dizer, e eu sei os trâmites para que isso chegue até os funcionários de maneira mais efetiva. Além do mais, essa atividade é tão comum... Pessoas como o presidente Kennedy, Hillary Clinton e George Lucas já contrataram os serviços de Ghost Writers.

CL: Então os assuntos que são abordados é ele quem escolhe?
GW: Sim. O ideal é que o presidente esteja bastante envolvido. É claro que isso nem sempre acontece, mas no caso da empresa onde trabalho é assim. Se ele quer falar de uma experiência pessoal, ele me conta e a partir daí eu escrevo. Depois ele aprova, faz modificações quando é preciso. Ele pode não ter o tempo para sentar e escrever, se preocupar com cada palavra como eu me preocupo, mas tem que ler o que é postado, saber do que estamos conversando com os funcionários. Ele lê todos os comentários também, mas acredito que isso seja parte da nossa cultura de aproximação. Ele é bastante conhecido por isso, por essa proximidade que tem com os seus colaboradores. E nem todos os presidentes são assim, na verdade isso é bastante difícil.

CW: Você também escreve os discursos?
GW: Sim. No calor do momento, dizemos muitas coisas desnecessárias e esquecemos coisas importantes também. Pode ser a emoção, o nervosismo... Você nunca saiu de uma entrevista e pensou "Caramba, esqueci de dizer isso!" ou "Ah! Devia ter falado aquilo"? É muito comum. Eu sei o que é relevante, e se escrevo me certifico de que aquilo não será esquecido.
Nem sempre o presidente lê tudo. Já cheguei até a fazer tópicos, em bullets mesmo, sabe? Para ele falar como quisesse. E outras vezes eu já cheguei a mandar o discurso para ele aprovar, mudar o que achasse necessário e depois ler inteiro, vírgula por vírgula, como estava no papel. Depende muito da ocasião.

CL: E supondo que o discurso seja um sucesso, ou que o blog dê muito certo e que todos comentem como ele é bom, simpático, admirado, comunicativo. Como você reage ou reagiria a isso, sabendo que quem escreveu foi você?
GW: Eu só não reagiria bem se desse errado, porque isso significaria que não estou fazendo o meu trabalho direito (risos). Nem sempre o presidente é conhecedor e domina a Comunicação, e como ele carrega a imagem da empresa de maneira tão forte, não é errado que ele tenha uma ajuda. Nesse caso a ajuda sou eu, e se os resultados disso são positivos, o sucesso é de todos: os funcionários sentem essa proximidade e respeito, o líder tem suas mensagens absorvidas e eu, que tenho a prova de que o trabalho não é à toa.

CW: Da maneira como você fala, tudo soa tão positivo. Existe algum lado ruim nessa atividade? Quais são as maiores dificuldades de um Ghost writer?
GW: Acho que a maior dificuldade é ter um portfólio (risos).

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